Opinião Emerson Souza Gomes: Comércio local é gente de verdade

Gente de verdade
Foi em meio à celeuma do porto-sim-porto-não que travei conhecimento com um pescador decano na Praia da Enseada. O rosto enrugado do sol, a costas curvas, arrastando passos na areia, já não ia mais ao mar; contentava-se em ver os mais jovens armando os barcos pela manhã e em dar conversa para qualquer um que aparecesse. Conversa vai, conversa vem, me falou que participara do maior lanço de tainha do Estado que, apontando com o queixo, tinha se dado bem ali à nossa frente, ainda no tempo em que não havia por estas bandas a Petrobrás. “Tempo bom” – ou coisa do gênero – expressou antes de levantar e dar-me as costas. “A sabedoria faz com que consigamos filtrar o passado. Tudo passa, menos as boas lembranças”, alguém pensou.
Disrupção
Pedir carona pelo smartphone para ir a uma cervejaria self-service faz parte do cotidiano. Quando um novo modelo de negócio surge, muitos lamentam: as leis de mercado são darwinianas. Frente às novas engenharias empresariais, os pequenos negócios já vinham com uma sobrevivência sofrível e a crise sanitária agravou o quadro. Aqui, na Ilha, como em muitos outros rincões, há um apelo para que se prestigie o comércio local. O apelo é necessário, mas a ordem é se adaptar: com crise ou sem crise as coisas vão mudar – digam lá táxis, hotéis, livrarias, lojas de CD…
Mas há uma enorme oportunidade
Seja mercado de bairro, lanchonete ou boutique de roupas, a presença na internet é tão importante quanto o ponto comercial. Favorável é que a internet tende a se humanizar. Quem vai à rede quer ver gente de verdade – razão que talvez tenha feito youtubers amealharem milhões. – Nisto, pequenos empreendimentos gozam de um diferencial e aqui me refiro ao comércio. É muito atrativo assistir a um “local” na internet falando do seu negócio e é bom lembrar: proximidade gera confiança, que gera interação, que gera negócios!
Mesmo no comércio o serviço é o diferencial
Agregar serviços é o caminho. Não basta produto de qualidade – na internet os preços são módicos e em grandes varejistas, imbatíveis. – Para evitar guerra de preços, ou tentar dela se esquivar, a solução é deixar de vender e passar a auxiliar o cliente na compra, interessar-se por ele, bem atende-lo, assessora-lo e superar expectativas. Mesmo no comércio o serviço é o diferencial; já aconteceu comigo: “Leve este, é mais barato e é o que o senhor precisa.” – Fiquei admirado.
Precisamos de gente de verdade para vencer a crise
Pessoas se relacionam com pessoas. Mais do que nunca há um apelo para que o ser humano protagonize as relações sociais e a hora é de cultivar o entusiasmo com cada um recorrendo às suas boas lembranças – lembrar o seu grande lanço de tainha – e seguir adiante, afinal, precisamos de gente de verdade para vencer a crise e o comércio local…
….e o comércio local “é” gente de verdade!
Artigo originalmente publicado no jornal Folha Babitonga

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